Sunday, September 10, 2006

João Rocha n'A Bola

O poder da FIFA
joão Rocha
Ocaso Mateus abriu portas a um diálogo que coloca os poderes da FIFA no centro de todas as atenções. Daí que seja pertinente tecer alguns considerandos sobre o modo de funcionamento da estrutura que, a partir de Zurique, manda em todo o futebol mundial.

A FIFA é uma organização mercantilista que visa o lucro. Que se sobrepõe à Constituição dos países, aos governos e aos próprios tribunais, dita as suas leis em regime de sociedade secreta, estilo mafioso, impondo as suas regras num sistema de dura ditadura.

Pouco se sabe dos dinheiros obtidos nem quais os processos que utilizam para a sua obtenção. Não se conhecem relatórios e contas, de onde vêm e para onde vão as dezenas ou centenas de milhões de contos obtidos por trocas de favores que chegam até a envolver chefes de Estado.

Em recentes eleições Blatter usou todas as influências para que Lennart Johansson, presidente da UEFA, não chegasse à presidência da FIFA.

Havia que conseguir a todo o custo que a presidência de João Havelange fosse branqueada. É que a eleição de Johansson implicaria que toda a teia de corrupção e tráfico de influências fosse descoberta e revelada. Blatter garantia que se fosse eleito assegurava a confidencialidade de todos os processos. Até o presidente da FPF trocou o voto em Johansson pelo voto em Blatter.

A dança dos votos

Diz-se que foi através de uma empresa ISL, controlada pela Adidas, que conseguiram os votos das federações africanas, sul-americanas e asiáticas. Até a selecção brasileira, com as suas deslocações, teve influência nos votos dados a Blatter.

Este deu a medalha de mérito da FIFA a Henry Fok, o milionário de Hong Kong cujo filho é dono de um clube de futebol e de uma estação de televisão. Jacques Chirac inverteu o sentido de voto de Michel Platini, que apoiaria Johansson, e começou a fazer telefonemas pessoais aos presidentes das federações africanas. A FIFA consegue assim com Blatter, na continuação de João Havelange, impor com ditadura férrea o controlo de todo o futebol no Mundo.

Esta organização, que se movimenta como a maior força jurídica que se conhece em todo o Mundo, consegue impor as suas leis desde os países da Ásia Oriental à Índia, aos países islâmicos e africanos e a todo o mundo ocidental.

Constituem-se sociedades receptadoras de somas astronómicas dos sponsors, gastando o dinheiro disponível na conquista dos votos indispensáveis para a sua manutenção eterna nos lugares que ocupam — aproveitando-se do estado adverso em que se encontram, de modo geral, as economias do Mundo, que levam os seus habitantes, a braços com o desemprego e a redução salarial, a refugiarem-se nas notícias e imagens que o futebol proporciona.

Com uma máquina altamente especializada em desviar atenções das populações do mundo real em que vivem, fazem pressão e chantagem sobre as governações, fazendo-as acreditar que o futebol é o verdadeiro interesse público.

Gil Vicente

Se o caso português do Gil Vicente for por diante, os clubes portugueses serão largamente prejudicados mas a breve prazo podem ficar super-ricos. É que cada um deles poderia reclamar através dos tribunais internacionais, como aconteceu no caso Bosman, importâncias equivalentes aos dinheiros que cada um ganharia se fosse campeão nacional, europeu e do Mundo.

O país que tiver a ousadia de não se deixar espezinhar por esta ditadura férrea, controlada secretamente por meia dúzia de homens que não prestam contas a 4 ou 5 biliões de indivíduos amantes do futebol, pode levar a FIFA à falência e os seus responsáveis julgados pelos possíveis crimes que tenham cometido.

É inadmissível que, hoje em dia, a FIFA invoque a necessidade de os governos estarem todos de acordo com as suas decisões (o último caso aconteceu com a Grécia) porque sabem que as populações dão, neste momento, mais importância ao futebol diariamente visto nas televisões que propriamente à redução da sua capacidade aquisitiva. Isto é uma chantagem que a FIFA faz, aproveitando-se da crise que grassa nas sociedades de consumo.

Já era tempo de a UEFA desligar-se da FIFA e promover os campeonatos exclusivamente europeus, que têm muito mais força que as selecções do resto do Mundo.

Os asiáticos, africanos, islâmicos e indianos não prestam grande atenção ao futebol que se pratica nos seus países e dão prioridade às transmissões do futebol europeu. E os dinheiros daí resultantes poderiam ser canalizados para a promoção do futebol nos países mais necessitados, sem a contrapartida dos votos que têm mantido estes senhores da FIFA no poder.

Os tribunais europeus julgariam, com certeza, a favor da extinção desta ditadura que persiste em existir, tal como aconteceu na América quando os tribunais barraram a intenção da Microsoft de dominar...

Gilberto Madail, ao impor as regras do interesse público, promove decisões irresponsáveis e de grande risco.

Se este assunto for levado ao Tribunal Europeu, não será resolvido em menos de seis meses e se for favorável ao Gil Vicente todas as competições serão anuladas e iniciadas de novo, o que causará o caos e a liquidação de todo o futebol nacional.

Uma palavra ainda para o Belenenses, que, de forma sóbria e civilizada, defendeu os seus pontos de vista com urbanidade e frieza, conseguindo manter-se na Liga em 2006/07.

Eu e a Liga portuguesa

A Liga foi criada para organizar os campeonatos de futebol, tirando-os da esfera da FPF. Formámos uma comissão inicialmente constituída por mim, Fernando Pedrosa, Pimenta Machado e Valentim Loureiro. Fui com Pimenta Machado a Madrid buscar os estatutos da Liga espanhola para, baseados neles, formarmos os estatutos próprios da Liga portuguesa.

Chegou a pensar-se que pudessem existir dois campeonatos: o da Liga e o da FPF, ambos com acesso às competições europeias. Mas era impraticável. Entretanto eu afastei-me e mais tarde convidaram-me para suceder a Pinto da Costa como presidente da Liga.


Houve insistências muito grandes de todos os clubes e de todas as representações com votos para que eu aceitasse ser presidente. Chegaram mesmo a dizer que já tinham arranjado um apartamento no Porto para eu ficar. Às 11 horas do dia das eleições, na Figueira da Foz, o major Valentim Loureiro, numa última tentativa, insistiu para que eu aceitasse o cargo. Mas, dada a minha recusa, às 15 horas desse mesmo dia apresentou-se ele como candidato e foi eleito.

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